quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

carnaval no meu país

O Carnaval está para mim um pouco como a religião: ao longo dos anos fui assistindo a uns desfiles, coloquei umas máscaras para me forçar à paródia, a ver se pegava, mas nunca teve grandes resultados práticos. Da mesma forma, rezar e frequentar a igreja em ocasiões de formalidade católica também nunca fizeram de mim uma devota, de maneira que se há feriados cujo significado de peso reside na possibilidade gratificante de nos dar uma folga, o Carnaval é um deles (a época natalícia é a única, até à data, que vivo com alguma introspecção e espírito de partilha e que me diz qualquer coisa, não sei bem o quê). Voltando ao entrudo, há coisas - cada vez mais frequentes - que acabam por se fazer por amor ao próximo. No caso, o próximo são as sobrinhas lindas, de fato a rigor, porque apesar da minha descrença quero que no futuro também elas tenham histórias para contar, com mais ou menos entusiasmo, sobre este feriado. Este ano, pelo tal amor ao próximo, rumei a Loures, o que não é de todo um up-grade nos meus Carnavais pela categoria do corso, e comecei logo por achar um abuso os cinco euros de ingresso (com direito a permanecer de pé, sem vista de jeito para o que quer que seja e salve-se quem puder). Entre empurrões e com paciência e boa vontade, lá se conseguiu um lugar de categoria à beira do sambódromo, onde desfilam tractores agrícolas, conduzidos por zé-povinhos a beber minis como incentivo. Mas a parte melhor estava reservada para as mulheres que saltitando mais do que sambando, se encavalitavam nos carros alegóricos forrados a papel de prata ou seguiam às resmas, estrada fora, com sapatos desiguais, adequados à resistência de cada uma, na esperança de que a tanga prateada em forma de tiara e o soutien de enfeites metálicos distraísse a atenção de outros pormenores, como a diferença entre a sapatilha de ginástica ou a sandália da praça de espanha. E oh se distraía! Dei por mim embasbacada a olhar, com um ar certamente tão lânguido como o dos homens maravilhados por aquele mar de carne... embora não pelos mesmos motivos. Perdoem-me se há neste discurso qualquer coisa que se assemelhe a um certo preconceito pela abertura que o Carnaval permite, mas há coisas que nem a tradição desculpa, nomeadamente ostentar publicamente adolescentes obesas e semi-nuas, de pele "cor de inverno" e com má circulação por causa do frio, a fazer lembrar salsichas frescas, porque se no Brasil Carnaval é calor e samba, também por cá tem de ser assim. E foi assim que, exceptuando então alguns laivos de bom gosto e pé p'rá dança, com alívio regressei a casa, a esta vida cinzenta e sem confettis, até porque me pareceu que também as meninas herdaram o gene familiar que não liga a fanfarronadas e só acham piada até se fartarem, que isto do bom gosto nasce connosco. Vou começar a fazer o que faziam os meus pais no Carnaval e a levar as crianças para o relvado da torre de Belém para acabarmos a tarde de Domingo na fila dos pastéis.

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