quinta-feira, 19 de março de 2009

Mila

A Mila que eu conheci em miúda, feia, baixinha e gorda, com olhinhos de tartaruga velha e óculos de míope conseguiu sempre destronar do meu pódio imaginário todas as Milas que se lhe seguiram: lembro-me de repente da Mila do Netinho brasileiro, um mito musical e certamente uma brasa carioca, ou da Jovovich, qualquer uma delas sempre assombrada pelo fantasma da primeiríssima Mila da minha vida. As primeiras coisas são as que deixam marcas. Não posso evitar de não gostar de Mários, Duartes e Betos pelas experiências ou impressões pouco indeléveis que os primeiros deixaram em mim, pelo que nunca teria um filho a quem chamasse Mário, Duarte ou qualquer nome que pudesse originar a suspeita alcunha Beto.
Eis-me aqui chegada a um outro tema que, apenas aparentemente, nada tem a ver com isto. Esta manhã acordei a pensar em vilipendiar. Simplesmente. Não que vilipendiava alguém, ou que fosse vilipendiada ou que assistisse a algum vilipêndio. Acordei com a palavra a latejar-me na cabeça, a pressionar-me. Foi mais ou menos um acordar cinematográfico, em que a pessoa se levanta e grita qualquer coisa, com a excepção de não me levantar como que impulsionada por molas - coisa que considero pouco coerente com o que normalmente acontece no despertar de um pesadelo, apesar de ter um efeito bonito -, apenas balbuciei a palavra, certamente com uma expressão aparvalhada.
Partindo assim das duas permissas iniciais, permito-me concluir o silogismo da forma mais lógica que agora me ocorre. Não obstante não ver a Mila nº 1 há uma mão cheia de anos (não conhecer a nº 2 e apenas estar mais em contacto com a nº 3 através da L'Oreal), a minha interpretação da obrigatoriedade de usar os óculos novos, interpretação muito própria que lhes reconhece a função de prótese acessória completamente dispensável e inconveniente, faz brotar em mim esta tendência subconsciente para vilipendiar a Mila-feia em função de uma ligeira crise patológica que tem estado a levedar brandamente de há uns dias a esta parte.

1 comentário:

Anónimo disse...

simplesmente fantástico. porra roo-me todo de inveja. caramba escreves mesmo bem, sensibilidade, ironia, paixão. sei lá, e não perdes inocência, pelo menos parece, será?
filipepires