segunda-feira, 9 de março de 2009

ódio fácil

Deve ter sido por sonhar com o que sonhei. Ela, que mal me falava, de tão ofendida, acabou por confessar que o motivo da sua presença ali se devia a uma ida ao médico. Uma consulta tardia (digo eu) devida ao facto de ter abortado espontaneamente há uns meses atrás (vejam bem o cabimento). E pronto, era isto. Mas depois, já havia uma outra jogada: tatuar em toda a extensão da barriga uma espécie de anjo de grandes asas; uma coisa horrível, colossal, de péssimo gosto que, quando pensava não poder piorar, se transformou num desenho inspirado na antiga fotografia dos avós. A sua barriga ostentava, então, a cópia de um daguerreótipo de dois idosos, de contornos escuros e olhos brancos, cegos. Uma coisa para lá de medonha.
Lembrei-me de Lourenço, da conversa da véspera, dos planos de uma lista. Por prioridades. Eliminatória. Acordei com uma raiva miudinha por isto tudo junto, por não poder pôr-lhe cobro. E ouvi sussurrar: "E Vitor?"
Foi a gota de água.

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