A declaração mais patética que já ouvi ser proferida pelo nosso Primeiro Ministro, Engº José Sócrates, chegou-me pela rádio ontem, ao final da tarde, a caminho do ginásio.
Ouvida tem outro impacto, mas achei que se transcrevesse, todos conseguiriam facilmente construir uma imagem da "personagem", com o seu olhar condescendente e a sua voz nasalada:
"Quero fazer-vos uma declaração sobre o facto de ter fumado no avião. De facto fumei, com o ministro da Economia [Manuel Pinho] enquanto conversávamos, mas no convencimento de que se podia fumar, porque assim sempre aconteceu nas outras viagens anteriores"... "Estava convencido que não estava a violar nenhuma lei nem nenhum regulamento. Infelizmente há essa polémica em Portugal e eu quero lamentar essa polémica. Se por algum motivo violei algum regulamento, alguma lei, lamento e peço desculpa, não voltará acontecer".
Na altura, não sei o que mais me incomodou: se a hipocrisia mal disfarçada, se a atitude extrema de (falsa) modéstia que reforça uma vez mais a minha teoria de que os políticos estão convencidos de que somos todos completamente idiotas, se o suposto estoicismo da atitude de deixar de fumar em consequência desta situação...
Começa por ser ridículo que o Primeiro-Ministro não saiba onde pode ou não fumar, isto partindo do princípio que acreditamos de boa-fé nas suas declarações. A partir daqui, a situação tende a piorar conforme se desenrola o processo jornalístico que traz até nós este tipo de informação.
Constata-se, por um lado, que os empresários que viajavam com a comitiva do Primeiro-Ministro, são um bando de queixinhas, provavelmente fumadores sem os mesmos privilégios no vôo, que acham que denunciar esta situação escalabrosa (como se fosse inédita), é fazer serviço público. Por outro lado, e a julgar pela equipa de reportagem que nos faz chegar esta notícia, parece que um assunto destes é de importância terminal para o nosso país (sinceramente quando ia a ouvir a notícia na rádio ia bem mais preocupada com o 15º aumento do gasóleo este ano!!).
Finalmente, vem o mais interessante. Nos diversos espaços destinados ao comentário virtual do cidadão comum - em tudo semelhantes a este blogue - dividem-se as opiniões entre o que é mais condenável: o imperdoável facto de o Engº José Sócrates fazer algo que o seu próprio Governo proibiu recentemente e sobre o qual o próprio admite não ter conhecimento ou a lamentável atitude dos jornalistas que continuam pelo bom caminho, sempre à procura de transformar novelas em notícias, porque as novelas têm mais audiências...
Eu confesso que também estou dividida, mas de uma coisa tenho a certeza: quase todos os portugueses sabem neste momento que o Primeiro-Ministro infringiu a lei do tabaco a bordo de um avião, mas muito poucos saberão sequer o que foi ele fazer à Venezuela. E se calhar nem interessa nada...
... (Já agora, Sr. Primeiro Ministro, desde quando dizer que não sabia que não podia fazer determinada coisa porque até aí era permitido é um argumento válido ou credível?? E reforçar as desculpas aos portugueses SE infringiu algum regulamento, como se ainda nem tivesse bem a certeza do que fez? Mais vale espetar logo com um cone na testa!!)
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