Há dias, a caminho do trabalho, vi-o em frente ao restaurante onde trabalha. Atravessou a estrada com dificuldade, arrastando um enorme recipiente do lixo. O avental justo ao corpo, amarrado em três voltas, a denunciar a sua silhueta débil, quase linear. Lembra-me um screen-bean. Vem-me à memória aquele fim de tarde de verão, entre caracóis e pica-pau, em que me deparei com a personagem. Os seus gestos delicados, a voz arrastada e demasiado afectada, a aparente descalcificação dos pulsos e a postura de mulher-a-dias. Não me esqueço. Gostava de o ver em família. Deve ser caricato.
(Às vezes apetecia-me ser daquelas pessoas que não têm pudor em ficar a olhar, embasbacadas, diante de uma aberração. Mas não consigo. Chatice!)
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