quinta-feira, 7 de maio de 2009

relações

Passam os anos e as relações acumulam-se. Vamo-nos dando conta de que estamos mais velhos, mais experientes, melhor preparados e quase sempre mais enriquecidos, através dos laços desenvolvidos. Os amigos da rua, alguns dos quais mudam de casa muito cedo deixando apenas recordações muito ténues que se confundem com a imaginação, os colegas que aprendem connosco a escrever as primeiras palavras, os que se formam ao nosso lado e, claro, os colegas de trabalho. Há pessoas que guardamos a sete chaves, que podem até não ser aquelas que mais conviveram connosco, mas cuja relação foi marcante, por um motivo ou outro, e às vezes até são recordações inadvertidas, resultantes de experiências más, que não conseguimos apagar.
As pessoas ensinam-se mutuamente a agir e reagir. Tornamo-nos mais autênticos, construimos a nossa identidade com base naquilo com que nos identificamos. As 'gentes' são o reflexo mais próximo que temos das nossas próprias acções e, com sorte, é através uns dos outros que acabamos por rejeitar o que nos desagrada e aproveitar o que reconhecemos como sendo bom, que é como quem diz a não fazer aos outros o que não gostamos que nos façam, por exemplo.
Isto obriga a que nos respeitemos, não a que tenhamos de gostar de toda a gente. Gente que gosta de toda a gente não existe e é patético tentarmos todos ser Medardos Bons* exactamente por não sermos metades, mas inteiros.
É por isso que, sem ressentimentos nem rancores, encolho os ombros à colega que, com voz afectada e melosa, de sorriso fácil e ternurento, se dirige a mim para me pedir os contactos telefónicos para um dia mais tarde, talvez... Sim talvez, respondo com um sorriso amarelo que não consigo disfarçar. Volta-me as costas e regressa ao lugar dela onde ficará por mais uns dias para depois se despedir sem que, estou segura, voltemos a cruzar-nos. Para que raio me interessa o contacto dela se sei que nada em si me aqueceu cá dentro? Aprendi, só. Foi uma relação de aprendizagem humana e não um laço afectivo consistente.
Por isso, muita sorte e tudo de bom no teu caminho que seguirá, certamente, coordenadas diferentes das minhas.
* já acabei de ler o Visconde

1 comentário:

Luís Filipe Pires disse...

tomei a liberdade abusiva e provocadora de publicar este texto no meu blog, claro sempre bem referenciado