quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

tudo do avesso

Sinto-me defraudada com a preocupação "psicopedagógica" a que sujeitam os miúdos agora. Ao que parece, as músicas que me cantavam na infância e que faziam 'eventual' referência a uma palmada ou um castigo, têm passado com grande preocupação pela censura diplomatizada que, como sabem, se ocupa hoje em dia, desde muito cedo, com a prevenção de futuras mazelas psicológicas nos miúdos - potenciais assíduos no acompanhamento profissional da terapia comportamental. A solução parece ser simples. Retiram-se alguns versos nefastos de canções sobejamente conhecidas, como nas Pombinhas da Cat'rina, em que a menina já não tem de se preocupar por ter partido a cantarinha, e portanto a versão que canto à minha filha é diferente da que me foi cantada, salvaguardando-a assim de um percurso infantil problemático e certamente de quedas muito pouco saudáveis a jogar à boa da cirumba e ao piolho.
O mesmo acontece em relação às histórias infantis, de uma forma ainda mais flagrante. Aqui, não alteram uma ou outra palavra, optam logo por mudar radicalmente a história, mantendo apenas as personagens. Por exemplo, a Capuchinho Vermelho desta nova Era é um absurdo: o lobo não é mau, não come crianças, não morre com o bucho cheio de calhaus. É antes uma espécie de animal doméstico, dócil (à semelhança do urso castanho - inspirado no pardo, um dos mais perigosos de sempre - mas que já ganhou há décadas um estatuto de fofinho), e já vi uma versão que culmina com um alegre piquenique entre a avó, a Capuchinho e o Lobinho, provavelmente a comer tofu. E com o Pinóquio é o mesmo, uma treta que nada tem a ver com o original.
É escandaloso ser mãe neste cenário. Fico sem palavras.

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