quinta-feira, 3 de março de 2011

heterogéneo

O amor terno, seguro e confortável. Aquele amor que é hábito, é rotina e é bom. Traz aromas familiares, fins de dia ou acordares, tarefas, prazeres e obrigações implícitas. O amor organizado, combinado, partilhado, sereno. Amor bom, doce, certo, eterno, que se quer, que se prolonga e sobrevive e se adapta e cresce e se molda e aprende. Amor que decorre, pleno. Que vive sem pressas, romântico, que se redescobre aqui e ali em surpresas agradáveis, em viagens ao passado e regressos ao presente. Amor que se mantém, resiste, fica, é.

A paixão. Egoísta, violenta e repentina. A paixão que vive do desejo que o corpo não consegue negar e que não se detém no amor. Paixão que reaparece, que espreita, que é fraqueza, é defeito, é sozinha. A paixão que só serve para nos servirmos a nós, para calar o coração que acelera por nada, por tudo. A paixão vive do que adivinha, da imaginação, da ousadia, da vontade, do capricho. Paixão que não admite menos que o máximo do que se quer, do que se pode, do que se sonha. Perigosa, impiedosa, quase cruel. Que aprisiona. Que amordaça. Que não admite a razonabilidade, a ética, a reflexão.

O amor alimenta-se. A paixão devora.
São insolúveis entre si.
Mas coexistem.

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