terça-feira, 29 de março de 2011

lar

Encontrar casa.

Nem sempre se sabe o que se quer. Isso comigo, infelizmente, é usual e pouco surpreendente.
Actualmente sinto-me regredir, eu, que já me acho miúda, demasiado miúda para a senhora que devia ser com trinta e dois. Sou fruto de um percurso normal, muito normal, sem erasmus, sem inter-rails, sem escoteiros, sem drogas, sem (grandes) loucuras, sempre pautado por um equilíbrio comportamental só aqui e ali arranhado pelos desvarios emocionais da adolescência que acho que não teve (tem) fim em mim. Espanta-me a certeza que me levou a casar. A ausência de dúvidas ou de arrependimento, mas apenas pelo meu receio de mudar de quereres, este capricho sentimental intrínseco, quase uma maldição. Mas, aparentemente, é apenas a continuação de um processo normal, num percurso normal.

Ter um filho. Foi natural e muito menos assustador do que temia. Foi inevitável porque me fazia falta e nisto de ter filhos começa por ser o nosso egocentrismo (e não a nossa generosidade) a falar mais alto. O relógio biológico torna-se exigente e, também ele, caprichoso. É, talvez, o acto mais self-centered e que, no final, mais significa partilha. Agora, mais do que o casamento e que tudo o que foram as nossas escolhas, aquela criança faz sentido e existe em nós e com um individualismo surpreendente, que evolui todos os dias e nos ultrapassa, e já não é nosso - nunca foi e será sempre - mas de todos e de si mesmo.

Mas encontrar casa...
É racionalizar uma lista infindável de coisas que se tornam massacrantes. Não é, antes de mais, um processo natural, biológico ou emocional. É cansativo, minucioso, dispendioso, burocrático e uma constante interrogação. Talvez seja um pouco menos isto tudo e muito mais agradável se se tiver o dinheiro que compra os prós e elimina os contras mas o desafio é construir um lar a partir desta condicionante principal.
Gostava de ser aquela pessoa que vive numa casa alugada, na cidade, onde o que importa é ter um bom acesso a tudo e uma cama para dormir ao fim do dia. Não sou. Sou aquela pessoa que se sente feliz quando regressa a casa e lhe reconhece o cheiro, os recantos.
Ainda não sei que casa vou comprar. A minha foi ocupada por uma professora do liceu e um australiano que desenha iates. Estão a sentir-lhe o cheiro de que tenho saudades. Onde vivo agora, não me cheira a lar. Não sei quanto tempo vou demorar a encontrá-lo. Sei que irá levar o tempo para encontrar o espaço mais o tempo para lhe reconhecer o cheiro, o que, mesmo na melhor das hipóteses, é sempre demasiado.

Encontrar casa.
Construir um lar.
Reconhecer-lhe o cheiro.
Receio que ainda vá tardar...

2 comentários:

nuno disse...

Não estejas triste. Lar não é uma casa e não precisa ser construido. Lar é onde tu estás e onde as pessoas que te amam te encontram. O Lar está no teu coração. Lar és tu.

FavaRica disse...

Também concordo com essa filosofia, mas não consigo deixar de me sentir um pouco refugiada neste momento...