Há um cansaço que, não sendo físico, nos dói mais no corpo do que qualquer fadiga.
Ontem, no trânsito que se acumula para casa, metaforizava impaciente. Era como se o meu cérebro fosse um almofariz. Não. Era como se me abrissem o cérebro e retirassem todo o seu conteúdo para um almofariz. Assim é que é. Depois amassavam-no bem, esmagavam, misturavam tudo com paciência infinita, como quem mistura o alho e os coentros da açorda, até os sucos estarem bem distribuídos, uniformes, indissociáveis. Depois voltavam a colocar essa mistura sem nexo, inútil e dorida dentro do meu invólucro, à espera que ela cumprisse as suas funções de raciocínio, lógica, discernimento. Claro que não. O trânsito não anda. Como é possível tão pouca estrada para tantos carros? É isso. Dói-me a cabeça. Doer não dói, mói. Depois de me abrirem o cérebro para massacrar o seu conteúdo e voltarem a moldar, encaixar e compor de forma rudimentar uma coisa que é tão delicada de origem não se pode esperar que não moa. Matar não mata, mas.. Já não há trânsito, mas ainda há estrada (mas não acaba?), afinal há mais estrada do que carros, mas não há equilíbrio entre os dois. Eu e a mania do equilíbrio, do fazer sentido, do ser perfeito. E esta moinha que não há meio de passar. Chega-te para lá, sua besta! Não me vês!? Tenho de me deixar destas merdas. E a ver se vou à tal aula de meditação para ser uma daquelas pessoas muito pacientes que circulam dentro dos limites de velocidade e gostam de andar na faixa do meio por precaução, ignorando com serenidade as buzinadelas. Ah, como eu gostava de ser uma dessas pessoas. Aposto que não metaforizam no trânsito e que têm os miolos intactos. Já cheguei? Pois já. Agora respira fundo, um trago de ar gelado que faz milagres, e reorganiza o guisado encefálico. A vida só te pede que sejas normal. SÓ isso.
Ontem, no trânsito que se acumula para casa, metaforizava impaciente. Era como se o meu cérebro fosse um almofariz. Não. Era como se me abrissem o cérebro e retirassem todo o seu conteúdo para um almofariz. Assim é que é. Depois amassavam-no bem, esmagavam, misturavam tudo com paciência infinita, como quem mistura o alho e os coentros da açorda, até os sucos estarem bem distribuídos, uniformes, indissociáveis. Depois voltavam a colocar essa mistura sem nexo, inútil e dorida dentro do meu invólucro, à espera que ela cumprisse as suas funções de raciocínio, lógica, discernimento. Claro que não. O trânsito não anda. Como é possível tão pouca estrada para tantos carros? É isso. Dói-me a cabeça. Doer não dói, mói. Depois de me abrirem o cérebro para massacrar o seu conteúdo e voltarem a moldar, encaixar e compor de forma rudimentar uma coisa que é tão delicada de origem não se pode esperar que não moa. Matar não mata, mas.. Já não há trânsito, mas ainda há estrada (mas não acaba?), afinal há mais estrada do que carros, mas não há equilíbrio entre os dois. Eu e a mania do equilíbrio, do fazer sentido, do ser perfeito. E esta moinha que não há meio de passar. Chega-te para lá, sua besta! Não me vês!? Tenho de me deixar destas merdas. E a ver se vou à tal aula de meditação para ser uma daquelas pessoas muito pacientes que circulam dentro dos limites de velocidade e gostam de andar na faixa do meio por precaução, ignorando com serenidade as buzinadelas. Ah, como eu gostava de ser uma dessas pessoas. Aposto que não metaforizam no trânsito e que têm os miolos intactos. Já cheguei? Pois já. Agora respira fundo, um trago de ar gelado que faz milagres, e reorganiza o guisado encefálico. A vida só te pede que sejas normal. SÓ isso.
2 comentários:
Um amigo teu disse que nós adoramos a perfeição, porque não a podemos ter e repugna-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito.
Gostei muito de voltar a ler-te.
Sempre o Pessoa...
Enviar um comentário