Freud
FavaRica
quinta-feira, 2 de abril de 2020
quinta-feira, 30 de abril de 2015
valium
"Vou explicar-lhe uma coisa, Diga, Começarei por lhe perguntar se sabe quantas são as pessoas que existem num casamento, Duas, o homem e a mulher, Não senhor, no casamento existem três pessoas, há a mulher, há o homem, e há o que chamo a terceira pessoa, a mais importante, a pessoa que é constituída pelo homem e pela mulher juntos, Nunca tinha pensado nisso, Se um dos dois comete adultério, por exemplo, o mais ofendido, o que recebe o golpe mais fundo, por muito incrível que isto lhe pareça, não é o outro, mas esse outro outro que é o casal, não é o um, mas o dois, E pode-se viver realmente com esse um feito de dois, a mim já me custa trabalho viver comigo mesmo, O mais comum no casamento é ver-se o homem ou a mulher, ou ambos, cada um por seu lado, a querer destruir esse terceiro que eles são, esse que resiste, esse que quer sobreviver seja como for, É uma aritmética demasiado complicada para mim, Case-se, arranje uma mulher, e depois me dirá, (...)"
José Saramago, Todos os Nomes
segunda-feira, 27 de abril de 2015
itálico
Digo para mim que tudo está bem. Tudo se recompôs.
Normalmente, o cansaço do fim do dia impede-me de pensar. Quando o sono não é assim tanto, e a solidão no quarto aumenta o tamanho das sombras, leio. Ler tem, por estes dias, uma acção soporífera fenomenal. E então durmo, sem pensar.
Agora vivo de acordo com esta filosofia de não pensar muito sobre nada. Pensar é pesado, doloroso, quase sempre um fardo.
Evito os pensamentos negativos a todo o custo. Quando eles se começam a instalar, já com a cabeça sobre a almofada, enxoto-os vigorosamente, sem misericórdia. É uma técnica que já domino. Os dias monótonos têm domesticado o meu cérebro. Resignei-me.
Mas de vez em quando, há uma emoção mais forte. Pode ser uma atitude, uma palavra, um gesto, quase sempre um sonho. Nessa altura, lá bem fundo, nas masmorras de uma qualquer parte de mim, sente-se uma presença que se quer libertar das mordaças. Muito de vez em quando, uma música, um lugar, um nome, uma observação, um itálico avulso, traz-me de volta a pessoa que, dentro de mim, julgava ter-se rendido...
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
dor
Hoje o meu sonho rezava assim:
Eu morri. E era uma criança, recordo-me pela angústia da minha mãe e pela surpresa da tragédia.
Não sei do que morri. Lembro-me apenas de que já estava nessa condição e habitava até, como é bom de ver, uma urna. Houve uma espécie de cerimónia religiosa num sítio grande, cheio de gente, que me é completamente desconhecido, quase como uma sala de espectáculos mas decorada como um templo. Morri mas estava consciente de tudo. Dirigia-me aos meus pais, falava-lhes. Ultrapassadas as diligências devidas a um defunto, recordo-me particularmente de estar a sós, com os meus pais, e de comunicarmos, embora existisse uma tristeza profunda que nos era comum: para eles eu já estava noutro reino, inacessível; para mim, eles estavam ali, ao meu alcance, mas num mundo do qual eu já não fazia parte. E no entanto eu ainda ali existia, fisicamente, com o meu sarcófago, e fazia súplicas disfarçadas para não estar naquela situação, naquele limbo, sem perceber porque motivo não conseguia desconectar-me se, na prática, já estava apartada. E acordei desesperada, nesta dúvida premente e dolorosa que me surgiu de um sonho.
Mais do que a risível circunstância de estar morta e a conversar casualmente com os vivos, que poderia aligeirar o desagradável argumento deste pesadelo, pesa-me a angústia de não temer a morte a não ser que esta represente um infinito estado consciente de que, estando, não se está mais...
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
neura
Queria ir a Nova Iorque. Era a próxima viagem que gostaria de fazer por todos os clichés e mais alguns. E gostava de ir no Inverno, que é um dos clichés principais. Mas antes disso, gostava de conhecer os Açores e a Madeira, que não conheço e acho uma pena, quase uma vergonha. Ainda assim, devia pensar, como qualquer mãe que se preze, em ir a Paris, à Disneyland, antes que as crianças tenham idade para viajar sozinhas e já pensem noutros destinos. Mas também acho que mereço, um destes Verões, trocar o Algarve pelo Mediterrâneo mais profundo e visitar uma paradisíaca ilha grega. Ou então ir à Croácia que deve ter umas praias fabulosas. Pensando bem, ia até ao Oriente, não precisava de ser logo à China, nem nada! Até me contentava em conhecer um bocadinho a Turquia..
Tenho tanto sono....!
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
tempo
Não sou das pessoas que choram a chegada do Outono. Sou das que o celebram.
O único momento em que me sinto em plena harmonia com a vida é na mudança das estações do ano. Acho que são o ciclo mais perfeito da natureza. As alterações climáticas e as transformações bruscas que estas provocam na rotina de cada estação é que me transtornam.
O calor do verão não me deixa saudades quando penso nos tons quentes e nostálgicos do outono, e as folhas caídas não me fazem falta quando sinto a nudez limpa de um dia frio de inverno ou o serão caseiro de uma noite gelada. Compreendo na chegada da Primavera o verdadeiro significado da renovação das coisas, em cada botão que abre, em cada nova cor que surge, e de novo regressa o verão, por vezes tórrido, que traz o ócio e a procura do cheiro do mar.
O único momento em que me sinto em plena harmonia com a vida é na mudança das estações do ano. Acho que são o ciclo mais perfeito da natureza. As alterações climáticas e as transformações bruscas que estas provocam na rotina de cada estação é que me transtornam.
O calor do verão não me deixa saudades quando penso nos tons quentes e nostálgicos do outono, e as folhas caídas não me fazem falta quando sinto a nudez limpa de um dia frio de inverno ou o serão caseiro de uma noite gelada. Compreendo na chegada da Primavera o verdadeiro significado da renovação das coisas, em cada botão que abre, em cada nova cor que surge, e de novo regressa o verão, por vezes tórrido, que traz o ócio e a procura do cheiro do mar.
Por isso não sou das pessoas que lamenta a chegada do outono.
Gosto da intempestividade da estação, com as suas tardes de sol ameno e as chuvas emergentes, que chamam o frio que ainda há-de vir. Gosto dos seus frutos. Das laranjas vibrantes, do aroma a uvas, a vinho doce, das nozes e (do cheiro) das castanhas assadas. Gosto de vestir um cardigan, e se calhar um lenço comprido e voltar a calçar as botas. Gosto de regressar, fiel, ao meu roupão de pelo negro e apertar firmemente o cinto à minha volta, mesmo quando o frio ainda se demora um pouco mais... Gosto até da mudança da hora por gostar das luzes que a noite me traz de companhia no regresso a casa. Gosto porque me chama ainda mais para as letras, para as histórias, para a ideia romântica do amor, do eu e tu, do conforto de abraços, do calor que se partilha. Gosto de chávenas fumegantes e de um recanto no jardim com botas felpudas e um livro.
E depois gosto quando o frio chega a sério, o granizo, a neblina da serra, o manto branco que cobre as pastagens pela alvorada e deixa um brilho cristalino no ar. Gosto de colocar um gorro de lã, entrar no carro, olhar para o espelho retrovisor, ver o nariz ruborizado e dormente, e dar as boas vindas ao inverno. Até vir a primavera. E depois o verão...
E depois gosto quando o frio chega a sério, o granizo, a neblina da serra, o manto branco que cobre as pastagens pela alvorada e deixa um brilho cristalino no ar. Gosto de colocar um gorro de lã, entrar no carro, olhar para o espelho retrovisor, ver o nariz ruborizado e dormente, e dar as boas vindas ao inverno. Até vir a primavera. E depois o verão...
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
any given friday
O Sam chama-me. MamÃÃ! MamÃÃ! Assim mesmo, com ênfase na última sílaba e o tom imperativo de quem manda aqui. An'cá! An'cÁ! Levanta com vigor o braço que me aponta o caminho. Deparo-me na sala com o iogurte espalhado, com riscos propositados de quem desenhou na carpete, cheio de consciência e intenção. Quem fez isto!? - Fô'bêbê... com olhos de enorme consternação.
Caramba, é mesmo manipulador este sacana!
a sintaxe do impropério
Tanta coisa está mal no mundo. Há tanto por que me sentir impotente. E, contudo, nada me deixa mais frustrada do que ler um 'fodasse'. Foda-se!
quinta-feira, 6 de novembro de 2014
ontem
Há um cansaço que, não sendo físico, nos dói mais no corpo do que qualquer fadiga.
Ontem, no trânsito que se acumula para casa, metaforizava impaciente. Era como se o meu cérebro fosse um almofariz. Não. Era como se me abrissem o cérebro e retirassem todo o seu conteúdo para um almofariz. Assim é que é. Depois amassavam-no bem, esmagavam, misturavam tudo com paciência infinita, como quem mistura o alho e os coentros da açorda, até os sucos estarem bem distribuídos, uniformes, indissociáveis. Depois voltavam a colocar essa mistura sem nexo, inútil e dorida dentro do meu invólucro, à espera que ela cumprisse as suas funções de raciocínio, lógica, discernimento. Claro que não. O trânsito não anda. Como é possível tão pouca estrada para tantos carros? É isso. Dói-me a cabeça. Doer não dói, mói. Depois de me abrirem o cérebro para massacrar o seu conteúdo e voltarem a moldar, encaixar e compor de forma rudimentar uma coisa que é tão delicada de origem não se pode esperar que não moa. Matar não mata, mas.. Já não há trânsito, mas ainda há estrada (mas não acaba?), afinal há mais estrada do que carros, mas não há equilíbrio entre os dois. Eu e a mania do equilíbrio, do fazer sentido, do ser perfeito. E esta moinha que não há meio de passar. Chega-te para lá, sua besta! Não me vês!? Tenho de me deixar destas merdas. E a ver se vou à tal aula de meditação para ser uma daquelas pessoas muito pacientes que circulam dentro dos limites de velocidade e gostam de andar na faixa do meio por precaução, ignorando com serenidade as buzinadelas. Ah, como eu gostava de ser uma dessas pessoas. Aposto que não metaforizam no trânsito e que têm os miolos intactos. Já cheguei? Pois já. Agora respira fundo, um trago de ar gelado que faz milagres, e reorganiza o guisado encefálico. A vida só te pede que sejas normal. SÓ isso.
Ontem, no trânsito que se acumula para casa, metaforizava impaciente. Era como se o meu cérebro fosse um almofariz. Não. Era como se me abrissem o cérebro e retirassem todo o seu conteúdo para um almofariz. Assim é que é. Depois amassavam-no bem, esmagavam, misturavam tudo com paciência infinita, como quem mistura o alho e os coentros da açorda, até os sucos estarem bem distribuídos, uniformes, indissociáveis. Depois voltavam a colocar essa mistura sem nexo, inútil e dorida dentro do meu invólucro, à espera que ela cumprisse as suas funções de raciocínio, lógica, discernimento. Claro que não. O trânsito não anda. Como é possível tão pouca estrada para tantos carros? É isso. Dói-me a cabeça. Doer não dói, mói. Depois de me abrirem o cérebro para massacrar o seu conteúdo e voltarem a moldar, encaixar e compor de forma rudimentar uma coisa que é tão delicada de origem não se pode esperar que não moa. Matar não mata, mas.. Já não há trânsito, mas ainda há estrada (mas não acaba?), afinal há mais estrada do que carros, mas não há equilíbrio entre os dois. Eu e a mania do equilíbrio, do fazer sentido, do ser perfeito. E esta moinha que não há meio de passar. Chega-te para lá, sua besta! Não me vês!? Tenho de me deixar destas merdas. E a ver se vou à tal aula de meditação para ser uma daquelas pessoas muito pacientes que circulam dentro dos limites de velocidade e gostam de andar na faixa do meio por precaução, ignorando com serenidade as buzinadelas. Ah, como eu gostava de ser uma dessas pessoas. Aposto que não metaforizam no trânsito e que têm os miolos intactos. Já cheguei? Pois já. Agora respira fundo, um trago de ar gelado que faz milagres, e reorganiza o guisado encefálico. A vida só te pede que sejas normal. SÓ isso.
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
quinta-feira, 2 de outubro de 2014
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