Quando entrámos no apartamento ficámos em choque.
Não era bem um apartamento, era mais... um pardieiro. Tinha um pequeno corredor estreito, uma porta para a humilde casa de banho do lado direito e, do lado esquerdo, um beliche (tipo estabelecimento prisional), com colchões gastos, muito sujos e lençóis brancos, dobrados e rijos de tanta goma. Mais à frente um sofá forrado de um tecido escuro - obviamente velho e sujo também - e uma mesa de madeira. O móvel da televisão e a kitchenet completavam o cenário daquele espaço que nos aguardava depois de muitas, imensas!!, horas de viagem.
A primeira coisa de que gostei realmente foi do vão de espaço por debaixo da janela, onde as nossas bagagens poderiam ficar sem incomodar ninguém. Já não era mau. Mesmo assim, apetecia-me cair no chão e chorar. Estava exausta.
Depois o choque foi passando. Teríamos de deitar mãos à obra antes de podermos descansar, de forma a transformar aquele... apartamento, num espaço onde nos sentíssemos bem nos próximos dias. Fizemos do sofá uma cama e, com os dois colchões do beliche, fizemos a outra cama. Dois casais, duas camas improvisadas. Ninguém ia dormir num beliche da 2ª Guerra Mundial no corredor! O humor começava a melhorar.
E quando a nossa imagem das coisas deixa de ser tão negativamente condicionada, voilá!, descobrimos o que sempre lá esteve e não conseguimos apreciar antes. Aquela fabulosa janela do nosso apartamento, apoiada num telhado alto de sótão, com vista para as montanhas cobertas de neve!
De repente, o cenário já não era nada mau. Afinal tínhamos ali de tudo: água (nem sempre quente como iríamos descobrir...), luz, camas (colchões sujos e gastos...) e até uma televisão, uma Playstation (levada de Portugal porque a "suite" não tinha esses extras) e um dvd do Gato Fedorento que preenchia os serões!
Além disso, os dias foram passados quase de manhã à noite a descer pelas pistas com pranchas de snowboard. Não dava tempo para apreciar os luxos de um apartamento de cinco estrelas.
Grande experiência!
Se não pensar muito na angústia que era para mim cada subida no forfait, com a única certeza de que cairia a descer e seria atropelada por alguém, ou no súbito impulso de fé que nem sabemos que temos quando fatalmente acabamos por cair pois já perdemos o controlo da prancha agarrada aos pés há duzentos metros atrás, ou na sede horrível que o intenso esforço físico provoca e que nos leva a comer punhados de neve (sim, do chão, porquê?), tenho de concluir que foram dias inesquecíveis estes em Andorra!
Não esqueço a janela de sótão com vista para as montanhas, principalmente naquele dia em que ficou emoldurada de branco por causa do forte nevão. Nem esqueço as bolas de neve fria que me atiraste ao acordar :-). Nem esqueço o Boneco de Neve (estava perfeito!). Nem a comida de má qualidade que fazíamos apressadamente mas que calava tão bem a nossa fome, depois de um dia extenuante.
Só já não me lembro certamente do truque para o snowboard. Terei de voltar ao princípio, outra vez, um dia.
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