terça-feira, 22 de abril de 2008

Pim, Pam, Pum

Não gosto do Circo. Gosto de preservar a magia que ele, supostamente, representa para os mais pequenos mas não gosto dos artificialismos que lhe estão por detrás.
Lembro-me de gostar do circo quando era pequena, principalmente dos animais e dos trapezistas. Dos palhaços nunca gostei.
Hoje em dia, o que me fascina no circo é a triste e lenta rotina que o envolve.
Em frente à minha casa, há um recinto perfeito para as tendas de circo e, de longe a longe, encontro-os lá, com a sua tralha e a tenda meio montada, ao regressar do trabalho.
Quando saio de manhã, nada. Mas ao fim da tarde, vindos não sei de onde, lá estão eles, instalados, a invadir todo o espaço. Ocupam uma extensa área mas tenho a sensação de que ninguém os vê. Ou então são apenas considerados estorvo.
Gosto de espreitar, pela minha janela, a jaula dos leões e o recinto onde se amontoam várias espécies de animais, como se de uma quintinha se tratasse. Faço-o com um misto de pena e de fascínio.
Também gosto de olhar as diferentes roullotes e imaginar a vida lá dentro, por trás das maquilhagens gastas e dos cetins e lantejoulas.
Nunca os vejo na rua. Onde se enfiam as pessoas do circo? Montam rapidamente a sua tenda e somem-se para as suas caravanas velhas, sem se importar com os leões e os outros animais, ou assim parece.
Entristece-me olhar este cenário, da mesma forma que me entristece um Caravaggio: o seu realismo fere.
Às vezes, o circo em frente à minha casa enche-se de gente ao fim-de-semana. São filas e filas de crianças ansiosas e pais impacientes, e uma parte de mim fica contente. Significa que os leões não estiveram ali a semana toda, dando voltas na sua jaula, para nada. Pelo menos, alguém vai vê-los.
Mas na última vez que esteve lá o circo, não havia filas de gente. As crianças já não queriam ir e os pais agradeceram, ao que parece. Acho que nem chegou a haver espectáculo.
Já foi há bastante tempo, mas ainda hoje, quando passeio o cão no recinto, vejo as marcas na terra, das bancadas outrora ali enterradas com ferros. E entristece-me que, dessa última vez, tenha voltado para casa ao final de mais uma tarde, e já não tenha encontrado o circo...

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