Chegada a casa, vou dar um jeito neste cabelo que não lembra a ninguém, desfiando-lhe um impiedoso golpe tórrido nos caracóis desarranjados. Cresce-me água na boca, de pensar no alívio que sinto ao passar as mãos por cabelo liso. Inquieta-me o cabelo ondulante e rebelde, que parece oscilar com o meu humor. Acho-lhe piada enquanto, ainda húmido, exibe canudos perfeitos, quase infantis, mas que depressa desaparecem depois de secos e expostos às intempéries. Restam-lhe depois vestígios de caracóis e um volume que desprezo. O desprezo que exaspera a minha mãe, a quem, se eu pudesse, dava metade da cabeleira, para regozijo de ambas. Também estou em pulgas para uma leitura de serão. A calma da leitura é o proveito retirado de horas tardias de frequente solidão imposta, coisas da vida que também têm de ter um lado positivo. Este vento uivante, raivoso, que oiço e me incómoda tal e qual os cabelos ondulantes, faz-me querer mais ainda este serão já próximo.
4 comentários:
bom andas a escrever de um modod soberbo. e não faço elogios gratuitos podia ficar-me pelo silêncio ou pelo elogio esfarrapado. mas caramba vale mesmo e muito.
o que se pode fazer com todo esse talento?
filipe pires
Sempre foi assim talentosa na escrita...não foi sempre totalmente reconhecida stôr de Português.
Beijinhos Nani
Olha a ana deu à luz e deu à luz.
1ª parabéns pela tua maternidade. depois por teres dado um ar datua linda graça, como é que eu te posso chatear? diz-me para te escrever
Eu prefiro os caracois! Que tanto prazer me dão a fazer!!! E tu com uma simples passagem com aquele ferro maldito destrois todoo meu trabalho.
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