terça-feira, 28 de outubro de 2008

quereres

Chegada a casa, vou dar um jeito neste cabelo que não lembra a ninguém, desfiando-lhe um impiedoso golpe tórrido nos caracóis desarranjados. Cresce-me água na boca, de pensar no alívio que sinto ao passar as mãos por cabelo liso. Inquieta-me o cabelo ondulante e rebelde, que parece oscilar com o meu humor. Acho-lhe piada enquanto, ainda húmido, exibe canudos perfeitos, quase infantis, mas que depressa desaparecem depois de secos e expostos às intempéries. Restam-lhe depois vestígios de caracóis e um volume que desprezo. O desprezo que exaspera a minha mãe, a quem, se eu pudesse, dava metade da cabeleira, para regozijo de ambas. Também estou em pulgas para uma leitura de serão. A calma da leitura é o proveito retirado de horas tardias de frequente solidão imposta, coisas da vida que também têm de ter um lado positivo. Este vento uivante, raivoso, que oiço e me incómoda tal e qual os cabelos ondulantes, faz-me querer mais ainda este serão já próximo.

4 comentários:

Anónimo disse...

bom andas a escrever de um modod soberbo. e não faço elogios gratuitos podia ficar-me pelo silêncio ou pelo elogio esfarrapado. mas caramba vale mesmo e muito.
o que se pode fazer com todo esse talento?
filipe pires

Nani disse...

Sempre foi assim talentosa na escrita...não foi sempre totalmente reconhecida stôr de Português.

Beijinhos Nani

Luís Filipe Pires disse...

Olha a ana deu à luz e deu à luz.
1ª parabéns pela tua maternidade. depois por teres dado um ar datua linda graça, como é que eu te posso chatear? diz-me para te escrever

Anónimo disse...

Eu prefiro os caracois! Que tanto prazer me dão a fazer!!! E tu com uma simples passagem com aquele ferro maldito destrois todoo meu trabalho.