sexta-feira, 9 de julho de 2010

misreading


Era uma vez um Rei
Com uma grande barriguinha
Comia, comia
E mais fome tinha.

Bom dia, Sr, Rei!
Como passa Vossa Alteza?!...
Se continua a comer tanto
Vai rebentar com certeza.
Isto dizia o bobo,
No meio de uma palhaçada
Mas o rei continuava
Como se não fosse nada.

Bom dia, Sr, Rei!
Viva a Vossa Majestade!
Depois de tanto comer
Como é que ainda tem vontade?
Isto dizia a Rainha
Meia triste, meia zangada,
Mas o rei continuava
Como se não fosse nada.

Bom dia, Sr, Rei!
Vossa Alteza é o maior,
Um rei deve ser grande
Se for gordo ainda é melhor.
Isto dizia o cozinheiro
Olhando o rei de alto a baixo,
O rei que coma, que coma
Quero lá perder o tacho.

Bom dia, Sr, Rei!
Faz Vossa Alteza muito bem
Os reis são feitos para comer
Para beber e dormir também.
Isto dizia o conselheiro
Esfregando as mãos de contente
O rei que coma, que coma
Enquanto eu sou o Regente.

E para final desta história
Já com tanto que contar,
Vamos dizer-lhe amiguinhos,
Como o rei se passou a chamar
Sua Alteza de tanto comer,
Já só andava à cambalhota,
O povo chamou-lhe então
O não sei quê, é o "Rei bolota".


Que dizer? Esta música, que eu não conhecia, tem sido a minha grande aliada desde que fui mãe pois ao que parece a minha filha sente um grande interesse pela história, mais do que propriamente pela melodia, e olha para mim com muita atenção, como quem se interessa deveras pelo enredo da coisa. Por diversas vezes a distraiu da birra e outras tantas a ajudou a comer mais duas ou três colheradas.

Tudo isto deve ser muito vulgar dentro deste contexto, mas a parte mesmo engraçada, é a forma como nos dedicamos à interpretação de algo que deveria ser totalmente objectivo mas acaba por não ser, e até não interessa nada!

Senão vejamos. Aquela parte onde se canta Com uma grande barriguinha, eu, algo disléxica e meio surda, entendia e cantava Comandante barriguinha (vá-se a entender a lógica), assim como substituia o Bobo pelo Povo (o que também não faz muito sentido, embora os súbditos possam cair na tentação de zombar do seu Rei, principalmente se for um gordalhufo comilão). Curiosamente, a parte que me inspirava dúvidas e que não parece mesmo fazer bater a bota com a perdigota, é a O não sei quê, é o Rei bolota. O não sei quê? Que falta de chá! Mas parece que esta eu entendi bem.

Por estas e por outras é que as canções para crianças são o que de mais parecido há com aquele jogo do telefone ou da mensagem, em que a palavra dita no início acabava noutra coisa completamente diferente depois da corrente de sussurros. Cada cabeça sua sentença. Daí aquela do 'assentada' à chaminé que se popularizou na cantiga do Atirei o Pau ao Gato e perpetua o recorrente erro do prefixo antes do verbo.

Enfim, todos contribuimos para esta causa. Eu já inventei a minha versão. E a Teresa gosta.

2 comentários:

Escarlate disse...

Quando era (mais) criança, todos os putos tinham a mania de dizer "Chega aqui à cabine de som" quando queriam que alguém fosse ter com eles. Acontece que eu percebia "Chega aqui à cabine de Souto", sendo que Souto é o nome da rua onde moro. Eu achava aquilo muito estranho, porque é que pessoas de sítios diferentes diziam sempre Souto, até que um dia se fez luz nesta minha cabecinha :D

Anónimo disse...

deliciosamente lindo
benvinda, ou bem vinda? a tanta força da segunda fez-me gostar da primeira
filipe pires