quarta-feira, 29 de setembro de 2010

em estado de profunda necessidade

Hoje acordei assim, com estas vozes parvas. Se calhar são as mesmas que se enraizaram no meu cérebro enquanto adormecia ontem, as dos vizinhos, que parecem vir de todas as direcções e se elevam até ao expoente da loucura, como diz aquela música, e se juntam ao som de objectos que parecem ser arremessados, portas que batem, persianas que correm, trincos que dão voltas ruidosas. Juro que ouvi alguém que chorava, um choro desesperado, profundo, de lamento, de súplica por um pouco de paz. Pelo meio do cansaço, tive pena e vontade de ir ajudar, mas não sei de onde vinha e agora que penso nisso, questiono-me se seria real... Dizia que acordei assim, com esta vontade parva de mandar calar, de pedir sossêgo, de mendigar por uns minutos de silêncio, logo hoje, que trouxe as vozes comigo. Estas vozes da minha cabeça são quase sempre nefastas, pelo menos para aqueles que defendem as coisas bonitas da vida e as frases feitas. Mas eu borrifo-me para isso, para usar do eufemismo porque normalmente é assim, digo que as coisas são 'aborrecidas' quando na realidade quero dizer que são uma 'merda', porque parece que para mim a escrita é intocável e falar mal até posso mas escrever tem outro peso. Enquanto isto, vai-me apetecendo bater. Bater não, gritar. Ofender profunda e irreversivelmente aqueles que me irritam continuamente em coisas que nunca mudam e que inviabilizam qualquer possibilidade de se criar um laço de amizade profunda. Não me digam que não é possível não se fazer amigos entre aqueles com quem vivemos pelo menos oito horas por dia, cinco dias por semana. Digo-vos eu que sim, que é possível, não só possível mas normal, provável até. Estúpido mesmo é criticar aquela que deveria ser a selecção criteriosa e, contudo, natural dos nossos amigos de percurso. E se o motivo da preocupação é considerar triste ou patética esta inaptidão social, então aí desarmam-me: sempre me achei uma inadaptada portanto se é este o nosso denominador comum, então as contas foram bem feitas.
Estou a precisar de sair um bocadinho à noite e beber uma porcaria que misture groselha com qualquer coisa ácida, posicionar-me com bastante precisão num recanto da pista de dança que não seja muito escondido mas que me circunscreva à minha carapaça de participante-observadora, libertar algumas endorfinas ou outras que tais ao som de alguma música muito vintage, fingir que danço e sentir-me desajeitada ao fazê-lo mas ficar com a sensação que tive a agitação of a lifetime, ufa!.

2 comentários:

nuno disse...

Experimenta saltar de 15 metros de altura em água fria - irás reparar que estás viva! Quando estiveres na ponta vais sentir o teu próprio coração a bater. Respira fundo e deixa-te cair - vais sentir cada parte de ti. Bravo Estranha!

FavaRica disse...

Fiquei na parte dos 15 metros e não me atrevi a mais. Acho que vou ficar neste torpor até a vida me dar alento para essas coisas... :-)