Hoje o meu sonho rezava assim:
Eu morri. E era uma criança, recordo-me pela angústia da minha mãe e pela surpresa da tragédia.
Não sei do que morri. Lembro-me apenas de que já estava nessa condição e habitava até, como é bom de ver, uma urna. Houve uma espécie de cerimónia religiosa num sítio grande, cheio de gente, que me é completamente desconhecido, quase como uma sala de espectáculos mas decorada como um templo. Morri mas estava consciente de tudo. Dirigia-me aos meus pais, falava-lhes. Ultrapassadas as diligências devidas a um defunto, recordo-me particularmente de estar a sós, com os meus pais, e de comunicarmos, embora existisse uma tristeza profunda que nos era comum: para eles eu já estava noutro reino, inacessível; para mim, eles estavam ali, ao meu alcance, mas num mundo do qual eu já não fazia parte. E no entanto eu ainda ali existia, fisicamente, com o meu sarcófago, e fazia súplicas disfarçadas para não estar naquela situação, naquele limbo, sem perceber porque motivo não conseguia desconectar-me se, na prática, já estava apartada. E acordei desesperada, nesta dúvida premente e dolorosa que me surgiu de um sonho.
Mais do que a risível circunstância de estar morta e a conversar casualmente com os vivos, que poderia aligeirar o desagradável argumento deste pesadelo, pesa-me a angústia de não temer a morte a não ser que esta represente um infinito estado consciente de que, estando, não se está mais...
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