Digo para mim que tudo está bem. Tudo se recompôs.
Normalmente, o cansaço do fim do dia impede-me de pensar. Quando o sono não é assim tanto, e a solidão no quarto aumenta o tamanho das sombras, leio. Ler tem, por estes dias, uma acção soporífera fenomenal. E então durmo, sem pensar.
Agora vivo de acordo com esta filosofia de não pensar muito sobre nada. Pensar é pesado, doloroso, quase sempre um fardo.
Evito os pensamentos negativos a todo o custo. Quando eles se começam a instalar, já com a cabeça sobre a almofada, enxoto-os vigorosamente, sem misericórdia. É uma técnica que já domino. Os dias monótonos têm domesticado o meu cérebro. Resignei-me.
Mas de vez em quando, há uma emoção mais forte. Pode ser uma atitude, uma palavra, um gesto, quase sempre um sonho. Nessa altura, lá bem fundo, nas masmorras de uma qualquer parte de mim, sente-se uma presença que se quer libertar das mordaças. Muito de vez em quando, uma música, um lugar, um nome, uma observação, um itálico avulso, traz-me de volta a pessoa que, dentro de mim, julgava ter-se rendido...
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