sexta-feira, 7 de março de 2008

Menina...

Conheço uma menina franzina e pequena; trigueira de natureza, de nariz arrebitado e cabelinhos escuros e finos. Tem dentinhos desalinhados - ainda de leite! -, que mostra atrevidamente quando sorri. Tem uma voz meiga e doce, mais infantil que a de muitas outras meninas da mesma idade, mas que apetece congelar no tempo e ouvir sempre! Ai, se eu pudesse! Se fosse legítimo conservar numa "caixinha" esta voz melodiosa e ouvi-la sempre que apetece, sem gastar!
Atrapalha-se a falar, esta menina. É esperta e brincalhona, mas cresce sem pressa nenhuma. Não é a mais inteligente dos meninos da sala, lá no colégio; nem tão pouco a mais crescida ou desembaraçada. É emocionalmente frágil, como as crianças devem ser e apetece abraçá-la, protegê-la, pedir-lhe que não cresça.
É tão fácil sentir tantas coisas por esta menina e, contudo, tão difícil descrevê-la para além daquilo que os olhos vêm.
Sei que, seja qual for o rumo que a vida tome ou quantas mais meninas conheça, esta menina vai ser sempre a minha menina especial.
Vou querer um dia dizer a esta menina, talvez quando já for uma Mulher, o quanto ela é importante para mim. Vou querer contar-lhe das vezes que tentei adormecê-la sem sucesso, porque era muito selectiva no colo; vou dizer-lhe quantas vezes a apelidei carinhosamente de disléxica pela forma deliciosa como trocava as sílabas a proferir as palavras, por mais simples que fossem, e como lhe disse tantas vezes que era muito esquisita por se sentir apertada e desconfortável com collants que se enrolavam nos sapatos e ficavam torcidos nas suas pernitas de bailarina... Vou mostrar-lhe as inúmeras fotos de todas as suas fases e contar-lhe banalidades sobre o dia em que foram tiradas. Se mudar no futuro, saberá que no passado não gostava de sentir a areia da praia nas mãos e muito menos que esta entrasse pelas aberturas das sandálias! Que aborrecimento! Não saía do sítio enquanto não a limpassem e transportassem ao colo até uma toalha bem sacudida e com um diâmetro de segurança razoável... Como a compreendo!
Mas isso é um dia... mais tarde. Muito mais tarde, se puder escolher. Porque, por enquanto, vou abraçar esta menina e contemplar o seu sorriso matreiro, inebriada pela sua voz de bébé, esperando que o passar do tempo nos dê tréguas e me permita guardar muitos mais momentos para contar um dia, muito mais tarde, à minha menina...

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